terça-feira, 9 de dezembro de 2008

De Lulu a Vilminha

Em 1975, Débora foi escalada para viver a personagem Lulu de "Roque Santeiro" ("A Saga de Roque Santeiro e a Incrível História da Viúva que Foi sem Nunca Ter Sido"), novela de Dias Gomes, com direção de Daniel Filho, na Rede Globo, que, então, comemorava dez anos de existência.

« DÉBORA BOTA A SUA JUVENTUDE PARA FORA

Poucas vezes Débora Duarte esteve tão satisfeita numa novela como está se sentindo em Roque Santeiro. E ela tem muitos motivos para isso: pela primeira vez vai trabalhar ao lado de seu pai, Lima Duarte; também pela primeira vez vai fazer uma novela das 20 horas*: é o que ela acha mais importante - interpretando um personagem de grande identificação com muita gente.
"Lulu é uma menina de interior, que admira os artistas e sonha trabalhar em televisão. Não é ingênua como a Dora do Espigão. É uma jovem esperta, viva, que quer se expandir, botar sua juventude pra fora. Eu a chamo de Lulu-uau, porque é muito deslumbrada. Quer viver uma vida de sonho, que imagina ser a dos artistas que admira. Essa garota sonhadora tem muito de Débora aos 12-13 anos".
E para se aproximar de Lulu, ela voltou no tempo. ''Revivi minhas emoções da adolescência. Quando ainda garota, entre 12 e 13 anos, eu vivi esse tipo de emoção. Tinha muitos dos sonhos e das vontades que a Lulu tem. O que a Débora não tem da Lulu é a ligação com milagreiros. Lulu é considerada uma santa por ter recebido uma graça de Roque Santeiro. Em criança, ela tinha um problema nas pernas, e a cura é atribuída a um milagre do Roque, que numa visão lhe teria dito como proceder para ficar curada. Testemunha viva deste milagre, ela é tida corno santa pelos habitantes de Asa Branca e até por seu marido, Zé das Medalhas (Emiliano Queiroz), que a mantém isolada em casa."
Embora o relacionamento de Débora com seu pai, Lima Duarte, seja o melhor possível, o fato de estar trabalhando com ele a deixa um pouco inibida. ''É a primeira novela que fazemos juntos. E meu pai é meu crítico mais severo e impiedoso. Se acha que a minha atuação em determinada cena foi ruim, ele diz mesmo. E até bom, porque me ajuda a melhorar."
Débora diz que Lima não queria que ela seguisse a carreira artística. "Embora tanto ele quanto minha mãe (Marisa Sanchez) já fossem atores, fui fazer televisão à revelia dos dois. Lima considerava a profissão de ator como uma não-profissão, um trabalho marginalizado. Queria uma verdadeira profissão para mim. E de maneira geral, o ator no Brasil é realmente meio marginal, embora hoje menos do que antes. É agora o que se pode chamar de um marginal muito bem pago. O que lhe confere certo ar respeitável."
Fazendo televisão desde os cinco anos, Débora já trabalhou também bastante em teatro, mas tem a TV como o melhor veículo para seu trabalho. ''Nasci em 1950, quando se implantava a televisão no Brasil. Não só eu como toda a minha geração, é um produto da televisão, formado segundo os estímulos que ela, dá. A televisão é corrente com o tempo em que estou vivendo com o qual me identifico. É um tempo sem tempo, um massacre de informações, de estímulos, em que a televisão tem grande destaque''. »


Revista: Amiga TV

Data de Publicação: 27.08.1975
Fonte: Site TV Pesquisa


* Foi, efetivamente, a primeira vez que Débora fez uma novela das 20 horas na Rede Globo, mas não na sua carreira: na Rede Tupi, ela já havia feito ("Beto Rockfeller", de 1968, por exemplo).


Curiosamente, a data de publicação desta deliciosa matéria coincidiu com a data em que "Roque Santeiro" estrearia, no horário nobre da Globo: 27 de Agosto de 1975.
Porém, nessa mesma noite, pouco antes de a novela ir ao ar, foi lido, no Jornal Nacional, o comunicado da Censura Federal que vinha proibir a sua transmissão, alegando que "a novela contém ofensa à moral, à ordem pública e aos bons costumes, bem como achincalhe à Igreja".

Com quase trinta capítulos gravados e dez editados, a novela, que seria a primeira colorida do horário nobre, ficou suspensa, nunca chegando, pois, a ser exibida!
Esses capítulos encontram-se, hoje, nos arquivos do CEDOC.

Na verdade, Dias Gomes escreveu "A Saga de Roque Santeiro..." como uma adaptação subtil para televisão da sua peça teatral "O Berço do Herói", escrita em 1963, e que fora interdita pela Censura do Governo Militar em 1965.
Através de uma escuta telefónica de uma conversa entre Dias Gomes e o seu amigo Nelson Werneck Sodré, em que aquele confessava o seu propósito, a Censura acabou por descobrir tudo e interveio bem em cima da hora!

A fim de fazer à face a esta situação inesperada, a Rede Globo lançou uma reprise compacta de "Selva de Pedra" para preencher o horário e encomendou, em velocidade de relâmpago, uma novela substituta a Janete Clair, que, em tempo recorde, escreveu aquela que viria a tornar-se um dos grandes sucessos de sempre da teledramaturgia: "Pecado Capital".

Por motivos práticos, houve a preocupação de se usar, na nova novela, o mesmo elenco que já estava escalado para "Roque Santeiro"!

E foi assim que Débora abandonou abruptamente a sua Lulu para se transformar na antológica e inesquecível Vilminha Lisboa...



Vilminha


Vilminha com o Dr. Percival (Milton Gonçalves), seu psicólogo


Vilminha e Nélio (Dennis Carvalho), com quem ela se casa


Vilminha no meio dos seus irmãos: Vicente (Luiz Armando Queiroz),
Vitória (Theresa Amayo), Vinicius (Marco Nanini),
Válter (João Carlos Barroso) e Virgílio (Lauro Góes)


"Pecado Capital" foi ao ar a 24 de Novembro de 1975, mantendo-se até 5 de Junho de 1976, sob a direção de Daniel Filho e Jardel Mello.
Filha do viúvo milionário Salviano Lisboa (interpretado por Lima Duarte), Vilminha, que sofre de um trauma de infância, vê os seus problemas psicológicos agravados com a entrada de Lucinha (Betty Faria) na vida do seu pai, relacionamento que não aprova.



Débora gravando "Pecado Capital"

Débora e Lima Duarte viveram, assim, pela segunda vez, os papéis de pai e filha na ficção.
A primeira vez que isso aconteceu foi em "O Décimo Mandamento", novela de Benedito Ruy Barbosa, com direção de Antônio Abujamra, produzida pela Rede Tupi e exibida, no horário das 19 horas, de Janeiro a Março de 1968. Débora era, então, Mariana, e Lima Duarte, Salvador.

Quanto a "Roque Santeiro", viria a ser, finalmente, produzida, do princípio ao fim, dez anos depois do episódio da censura, em 1985, já em clima de liberalização política.
Lima Duarte, curiosamente, manteve-se no mesmo papel que tivera em mãos na primeira versão, de 1975: o também antológico Sinhôzinho Malta. Já a Lulu de Débora foi entregue, na versão de 1985, à atriz Cássia Kiss.

3 comentários :

Anônimo disse...

Eu não sabia que Débora tinha participado da versão censurada de Roque Santeiro.
Surpreendente!

MARIO GORDILHO disse...

Vilminha, é dez...!! e concordo com vc... débora é dez em tudo que faz... mas a vilminha pra mim... batey forte, saca!!??

Anônimo disse...

Antony Murray:

A Vilma é INESQUECÍVEL. Eu lá com meus 12 anos não a esqueço jamais. Bela, estonteante, performance magnífica. Tivéssemos o 'Oscar' em termos de novelas e séries, eu daria a ela o de melhor atriz pela magistral interpretação de Vilma. Daria tudo para rever no 'Viva', canal que agora reprisa 'Água Viva', a novela Pecado capital.